A universalização do saneamento no Sul do país revela uma realidade complexa e cheia de desafios, apesar das boas intenções políticas e dos recursos disponíveis. Embora o progresso no tratamento de água e esgoto ocorra de forma gradual, muitos municípios ainda enfrentam dificuldades técnicas, administrativas e financeiras. A combinação de terrenos acidentados, áreas rurais isoladas e baixa capacidade técnica dos gestores dificulta acelerar o ritmo necessário para alcançar as metas nacionais. Esses fatores convergem para criar um cenário que demanda não apenas investimentos, mas também inovação estratégica para promover avanços reais.
É preocupante que em muitas cidades da região a cobertura de rede coletora de esgoto permaneça baixa, com algumas delas nem mesmo informando seus dados, o que torna a tomada de decisão ainda mais desafiante. Em áreas onde os índices chegam a zero, as alternativas mais simples, como fossas sépticas, costumam ser insuficientes para atender aos parâmetros mínimos exigidos de saneamento. Enquanto isso, iniciativas exemplares em localidades menores mostram que é possível avançar; ainda assim, esses casos são exceções em um panorama marcado pela disparidade entre a imagem desenvolvida da região e a realidade estrutural na prestação de serviços essenciais.
A trajetória recente indica que o estado avança de modo modesto, atingindo cerca de metade do ritmo necessário para cumprir as metas estipuladas para o ano atual. Embora exista um compromisso de elevar a cobertura de esgoto a níveis significativamente maiores até o fim da administração, os números mostram que será preciso acelerar substancialmente os investimentos e superar entraves burocráticos e técnicos para não ficar atrás de outros estados que já colhem os frutos de políticas de longo prazo.
A regionalização emerge como uma estratégia fundamental para viabilizar a universalização, especialmente em um contexto onde estados vizinhos se organizaram em blocos de municípios para melhorar eficiência, atrair investimentos e expandir a oferta de serviços. No entanto, há resistência quanto à perda de autonomia municipal e receios sobre a representatividade nas decisões futuras, o que torna o consenso um componente crítico para que essa proposta avance de forma equilibrada e eficaz.
Além dos desafios de governança, é imprescindível o uso de abordagens tecnológicas inovadoras para reduzir o impacto das obras e otimizar os recursos. Métodos que permitam intervenções menos invasivas, como aqueles empregados em tubulações sem grandes escavações, podem reduzir transtornos à população e tornar os projetos mais ágeis. A adoção de monitoramento em tempo real e a aplicação de ferramentas avançadas também possibilitam maior controle operacional, eficiência e proteção ambiental ao longo das etapas de implantação.
A falta de saneamento básico tem consequências diretas sobre a saúde pública, especialmente em localidades onde o acesso ainda é precário. Casos de internações por doenças provocadas por falta de infraestrutura adequada continuam altos, evidenciando que o atraso tecnológico reflete em sofrimento real para a população. Essa realidade reforça que investir em saneamento não é apenas uma questão técnica, mas um imperativo humanitário que exige atenção imediata das autoridades e investimentos estratégicos.
Do ponto de vista econômico, os estudos indicam que o retorno sobre os investimentos em saneamento pode ser significativo, impactando positivamente o turismo, a valorização imobiliária, a eficiência do sistema de saúde pública e a qualidade de vida geral. Ao longo das próximas décadas, o progresso na universalização de água tratada e esgoto coletado pode gerar benefícios que superam em muito os recursos aplicados, reafirmando a importância de acelerar essa agenda como prioridade regional.
Finalmente, é imprescindível fortalecer a cooperação entre o setor público, a sociedade civil e o setor privado para intensificar os esforços rumo à universalização. A articulação entre municípios, o apoio de especialistas e o compromisso com soluções inovadoras podem transformar o cenário atual, reduzindo as desigualdades e garantindo que toda a população tenha acesso ao direito básico do saneamento. Sem essa mobilização coordenada e contínua, a promessa de avanço permanecerá distante da realidade concreta daqueles que mais precisam.
Autor: Dana Fowler